No dia 27 de junho comemora-se o Dia Internacional da Pessoa com Surdocegueira, data escolhida em homenagem à escritora e ativista norte-americana Hellen Keller, primeira pessoa surdocega no mundo a obter um diploma de nível superior. Helen Keller dedicou sua vida a lutar pelos direitos das pessoas com essa deficiência. Em Santa Catarina, o Governo, por intermédio da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), realiza um trabalho voltado para estudantes surdocegos, onde o objetivo é melhorar a comunicação com e para estas pessoas, através de técnicas específicas e adaptadas a cada educando.
“Esta data especial, 27 de junho, é importante para refletirmos sobre essa deficiência, que tem suas particularidades e que compromete duas funções sensoriais: a visão e a audição. Nos faz pensar sobre como seria nossa vida sem poder ver e ouvir. Qual é a importância desses dois sentidos em nossa vida? Até que ponto essas deficiências limitam a vida de uma pessoa?”, destaca a pedagoga e professora do setor de surdocegueira do Centro de Capacitação de Profissionais de Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS) da FCEE, Suzi Souto.
O CAS conta com uma equipe multidisciplinar composta por pedagogos, psicólogos e professores que, além de trabalhar diretamente com os educandos surdocegos, também orientam e auxiliam suas famílias. Entre as atividades desenvolvidas estão o ensino de Libras em diferentes modalidades, adaptadas às necessidades específicas de cada educando, bem como o ensino de Braille, Sorobã, e técnicas de orientação e mobilidade. A equipe também oferece orientação, assessoria e capacitação para os profissionais da rede regular de ensino e dos centros de atendimento educacional especializado (CAESP).
Entre estes educandos estão Tayson, 14 anos, surdocego, e Mariana, 18 anos, surda e com baixa visão, que recebem atendimento na instituição desde 2017 e 2013, respectivamente. De acordo com a pedagoga Vanessa Paula Rizotto, do apoio pedagógico do CAS, os dois educandos evoluíram de forma significativa desde o início dos atendimentos. “Hoje eles estão mais comunicativos. Antes eles se comunicavam por meio de sinais soltos, hoje já compreendem falas dentro de um contexto”, destaca.
Ensino individualizado: Libras tátil e Libras em campo reduzidoSuzi Souto enfatiza que não existe uma fórmula única para o processo de ensino-aprendizagem, pois cada indivíduo chega ao CAS com uma realidade específica. Primeiramente, é realizada uma entrevista com a família para identificar o nível de comunicação existente entre os familiares e o educando. Em seguida, é elaborado um plano de ação individualizado, visando melhorar as limitações comunicacionais do educando, considerando os graus de suas perdas. Com o diagnóstico em mãos, a próxima etapa é a prática do ensino.
Para os educandos com surdez e cegueira, a comunicação utilizada é a Libras tátil, também conhecida como "mão na mão", onde os sinais são percebidos através do toque. Nesse método, a pessoa surdocega coloca as mãos sobre as mãos do sinalizante para sentir os movimentos e formas dos sinais. Por outro lado, a Libras em campo reduzido é utilizada para pessoas com baixa visão. Nesta modalidade, os sinais são feitos em um espaço visual menor e mais próximo do rosto ou do tronco do sinalizante, permitindo que a pessoa com baixa visão perceba os movimentos e formas dos sinais de maneira mais clara e eficaz.
Material didático diferenciadoPara facilitar o processo de ensino-aprendizagem, Suzi Souto desenvolveu uma série de instrumentos didáticos. Um exemplo é o caderno tátil, feito de EVA, com cinco linhas em alto-relevo que permitem aos educandos formar frases utilizando o alfabeto Braille. Além disso, ela criou a caixa delimitadora, que auxilia na compreensão de espaço, e a cela Braille ampliada para melhorar a percepção dos pontos Braille. A profissional também elaborou outros materiais confeccionados em diversas texturas, destinados a desenvolver a sensibilidade tátil dos educandos.
Suzi destaca que o processo de aprendizagem dos educandos surdocegos não deve ser medido em tempo, pois cada sujeito tem seu próprio ritmo. Antes de tudo, é necessário construir uma relação de confiança entre o educador e o educando. Somente depois vem a prática propriamente dita, que enfrenta desafios únicos. "Como você vai explicar para uma pessoa com essas características como é uma árvore ou uma baleia, por exemplo? Pessoas surdocegas usam as mãos para se comunicar e conhecer o mundo a sua volta, e nesses casos, elas não terão a possibilidade de sentir com as mãos a totalidade de uma árvore ou de uma baleia," enfatiza a educadora.
Respeito às particularidadesSegundo Fernanda Faucz, coordenadora do CAS, o trabalho do Atendimento Educacional Especializado (AEE) para surdocegueira tem como principal objetivo estabelecer um sistema de comunicação eficaz para as pessoas surdocegas, sempre respeitando as particularidades de cada educando atendido. "Aqui desenvolvemos metodologias buscando constantemente aprimorá-las, para oferecer um bom atendimento aos educandos, além de assessorar e capacitar os Centros de Atendimento Educacional Especializado (CAESP) e escolas da rede regular de ensino de Santa Catarina."
O Centro de Capacitação de Profissionais de Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS), funciona no campus da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), em São José. Mais informações em www.fcee.sc.gov.br