09/12/14 - Um computador com tela sensível ao toque aliado a um software inédito no Estado desenvolvido especialmente para auxiliar a comunicação alternativa de crianças com deficiência múltipla foram as conquistas mais recentes da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), através de um projeto conjunto com a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC).
Em andamento desde outubro de 2012, o projeto intitulado "Mediação da Comunicação de Crianças com Múltiplas Deficiências" é fruto de uma parceria entre a FCEE e um grupo de pesquisadores do Mestrado em Computação Aplicada da Univali e tem como objetivo contribuir de forma relevante no aumento da qualidade da comunicação de crianças com deficiência motora severa e sem capacidade de fala, introduzindo ferramentas robóticas e computacionais, como softwares, hardwares ou adaptações, promovendo a melhoria na qualidade de vida destes indivíduos.“O objetivo do projeto é encontrar maneiras de facilitar a comunicação de pessoas com deficiência, como no caso das crianças com paralisia cerebral que entendem tudo mas não conseguem se expressar”, afirma Elaine Piucco, Supervisora de Atividades Educacionais e administradora do projeto na FCEE, acrescentando que os recursos repassados pela Fapesc permitiram o investimento em tecnologia assistiva para a realização do estudo. "Ações como essa reforçam a missão institucional da FCEE em Santa Catarina que, entre outras coisas, trata de fomentar, produzir e difundir o conhecimento científico e tecnológico referente à educação especial", destaca a pesquisadora.
O projeto, elaborado pela Gerência de Pesquisa e Conhecimentos Aplicados (Gepca) da FCEE em parceria com o curso de Mestrado em Computação Aplicada da Univali, foi contemplado pela Fapesc em outubro de 2012 para receber apoio financeiro de cerca de R$ 50 mil, referente ao edital Chamada Pública Fapesc nº 04/2012.
Estudos de caso e aplicativos específicos
O processo de pesquisa envolveu, entre 2013 e 2014, estudos de caso com crianças atendidas pela FCEE com severas deficiências motoras e de comunicação, freqüentadoras do serviço de Comunicação Alternativa, realizado pela equipe de fonoaudiologia do Centro de Reabilitação Ana Maria Phillipi (CENER). O estudo feito com estes alunos, em sua maioria portadores de paralisia cerebral, embasou o desenvolvimento dos aplicativos realizados pela equipe da Univali, que criou softwares tanto para uso em computador com tela sensível ao toque quanto para pranchas, lousas digitais e tablets, este último ainda em desenvolvimento.
No dia 04 de dezembro de 2014, mais uma visita técnica da equipe da Univali à FCEE concluiu uma fase importante do projeto: a instalação do aplicativo desenvolvido pelos pesquisadores no computador com tela sensível ao toque.
O software, apelidado de CAA Tool, é voltado para atender às necessidades específicas de comunicação de alunos com paralisia cerebral ou autismo que apresentem deficiência intelectual leve a moderada associada a comprometimento motor na comunicação. Com os recursos do aplicativo, baseado em textos, símbolos e sons, as crianças conseguem construir frases e conversar com os professores. A solução integrada de hardware e software exerce a mesma função do sistema de símbolos utilizado atualmente no serviço de Comunicação Alternativa desenvolvido na FCEE, onde cada criança possui uma pasta com figuras e ícones que representam as atividades do seu cotidiano, como água, frutas, banheiro, etc.
“O objetivo é que estes aplicativos sirvam como ferramenta de apoio para educadores em sala de aula, sempre utilizando as técnicas já conhecidas por eles”, afirma o engenheiro cubano Alejandro Ramirez, professor doutor do Mestrado em Computação Aplicada da Univali e coordenador do projeto, salientando que os softwares ainda não são pensados para uso direto dos alunos, em seus tablets ou computadores pessoais, mas apenas para uso em sala de aula com a presença do profissional de educação especial.
Ramirez, com sua equipe de seis pesquisadores da Univali dedicados à área de Tecnologias Assistivas, também destaca que o objetivo final deste projeto é disponibilizar os softwares para download gratuito para uso de escolas ou instituições que atuem com educação especial. “É importante estimular o desenvolvimento e uso de tecnologias de origem brasileira voltadas para pessoas com deficiência”, explica o pesquisador cubano, salientando que a maior parte das tecnologias assistivas utilizadas hoje no Brasil são importadas e difíceis de serem adaptadas às necessidades dos usuários.
Saiba mais sobre a Comunicação Alternativa
A Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), como recurso de Tecnologia Asssitiva, envolve o uso de gestos manuais, expressões faciais e corporais, símbolos gráficos, voz digitalizada ou sintetizada, dentre outros meios, para efetuar a comunicação face a face de indivíduos incapazes de usar a linguagem oral. Diversas metodologias de Comunicação Alternativa são utilizadas em crianças com paralisia cerebral, portadoras de deficiências motoras severas e sem capacidade de fala, como pastas de cartões de contexto, por exemplo, em que a criança sem fala aponta (com os próprios membros no caso de pranchas físicas, ou com o mouse ou teclados adaptados em sistemas computadorizados) para um determinado cartão (dentre vários) para indicar o que deseja ou pensa em determinado momento. Dessa forma podem ser formadas frases juntando-se vários cartões de contexto. Mesmo com o método de comunicação alternativa dos cartões de contexto, crianças com deficiências múltiplas severas ainda têm dificuldade de comunicação, pois a deficiência motora prejudica a atividade de apontar os cartões.